Esse é o tipo de artigo que você começa a ler com um pé atrás. O título
parece tirado de um livro de autoajuda da década de 70. A promessa não
convence, pois todo mundo sabe que hoje em dia a vida profissional anda
difícil mesmo com esforço. Mas, observe: não prometi que seria sem
esforço. A palavra "adicional" redime o autor.
Durante um ciclo de apresentações dos objetivos estratégicos para
toda a equipe, um corajoso garoto, recém contratado, perguntou-me o que
deveria fazer para "chegar lá", para ter uma carreira de sucesso como a
minha. Antes de responder perguntei, por curiosidade, porque ele
considerava minha carreira "um sucesso". Ele ficou espantado com a
pergunta e respondeu: "o senhor é o CEO da empresa!"
Fiz, então, um pequeno aparte sobre objetivos pessoais e
profissionais e esclareci que, embora estivesse satisfeito com minha
"carreira", não era pelo fato de ocupar o posto de CEO de uma grande
empresa. Ocupar essa posição havia sido consequência, principalmente,
de minha atitude profissional.
Se todas as pessoas da empresa definirem como sucesso profissional
chegar à posição de CEO, estaremos diante de um grande problema. O
"ciclo de vida" médio de um CEO na empresa costuma ser de 5 a 7 anos, o
que significa que poucos terão a chance real de ocupar essa posição,
independentemente de seu esforço.
Imagem: Thinkstock
Mas, como ele – aparentemente – gostaria de chegar a essa
posição, me ofereci para compartilhar a minha experiência e contar o que
eu considerava que havia sido o principal fator gerador de
oportunidades.
Eu havia pensado sobre isso um par de anos antes, enquanto fazia uma
avaliação de minha trajetória pessoal e profissional. Na ocasião, dei-me
conta de que nunca havia planejado "subir" na hierarquia das empresas
onde trabalhei.
Pensei, também, nas pessoas que tive a oportunidade de escolher para
uma promoção quando passei a ocupar posições gerenciais. Concluí que,
embora competência profissional, comprometimento e "esforço" sejam
características importantes, não foram elas as principais motivações
para as promoções que recebi, executei ou aprovei.
Quando um chefe está diante do dilema de oferecer uma posição de
maior responsabilidade para um profissional, deve levar em conta uma
série de aspectos relevantes. Na abordagem mais técnica, irá considerar
as competências requeridas para a posição e avaliar os candidatos de
acordo com essas exigências. Tempo de casa, trajetória profissional,
dedicação e comprometimento, relacionamento pessoal e liderança,
alinhamento com a cultura e os valores da organização, além de outros
fatores importantes para motivação da equipe, costumam ser levados em
consideração.
Mas o dia a dia de uma organização pode ser simplificadamente
resumido em problemas e oportunidades. E é esse pensamento que, mesmo
inconscientemente, vai influir na decisão do chefe. A vaga em aberto é
uma oportunidade e uma decisão equivocada pode ser um problema.
Bons profissionais costumam ter uma visão crítica apurada. São os
primeiros a apontar problemas que podem comprometer o desempenho da
empresa. Mas chefes são seres humanos comuns e, de um modo geral, não
gostam de problemas. Preferem soluções.
O profissional que aponta problemas para o chefe, defendendo os
interesses da empresa, nem sempre é bem recebido. O chefe costuma ter
problemas suficientes. Você dedica vários dias a um trabalho analítico
para finalmente identificar a razão pela qual alguma coisa não vai bem
na empresa e comunica isso ao seu chefe. Deixa a sala com o sentimento
de que cumpriu sua missão. Seu colega entra dois minutos depois e
encontra o chefe preocupado. Pergunta o que aconteceu. O chefe, mau
humorado, compartilha o problema que você, brilhantemente, acaba de
descobrir. Seu colega escuta com atenção e propõe uma solução, ou se
oferece para cuidar do problema. Qual dos dois terá mais chance de ser
promovido? O que trás o problema para o chefe ou o que se oferece para
resolvê-lo?
A conclusão a que cheguei, observando os momentos de decisão, é que
profissionalmente temos a oportunidade de fazer parte do problema ou da
solução, e que os chefes tendem a escolher os profissionais que dedicam
mais tempo a solucionar problemas do que a encontrá-los.
Não estou desconsiderando o mérito de quem encontra os problemas. Ao
contrário, creio que essa é uma das contribuições mais importantes que
um profissional pode dar para a organização. Problemas, quando
devidamente equacionados, deixam de ser problemas e se transformam em
oportunidades.
Mas é importante considerar que, para que o chefe possa aceitar a
identificação do problema de forma construtiva com maior facilidade, ele
precisa estar acompanhado de uma solução ou da disposição de
solucioná-lo.
Eu gosto de resolver problemas. É uma característica pessoal (talvez
por isso mesmo tenha decidido estudar engenharia). Avaliando a minha
trajetória profissional, estou certo de que esse foi um fator decisivo
para as "promoções" que recebi. Costumo concentrar minha energia em
resolver os problemas ou motivar e ajudar as pessoas a resolvê-los, não
em reclamar deles. E também tenho consciência de que pessoas com essa
característica foram privilegiadas na maioria das promoções que decidi
ou aprovei.
Então, fica aqui a sugestão estratégica: quer se candidatar a uma promoção, passe para o lado da solução.
Por Flavio Ferrari
www.administradores.com.br
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