Alisson, apesar de muitas vezes vermos os conceitos de "empreendedorismo" e "inovação" juntos, vou te contar um grande segredo: nem sempre o primeiro a ter uma ideia, seu inventor, é a mesma pessoa ou organização que consegue lucrar com ela.
Um bom exemplo é a General Electric, que muitos conhecem pelo logo de GE. Muitas das pessoas que consomem produtos da GE, como lâmpadas e eletrodomésticos, não sabem que, além de ser uma das maiores empresas do mundo, é "filha" direta da pessoa considerada "pai" da eletricidade: Thomas Edison. A empresa foi fundada em 1890, e é uma das 12 empresas originais a fazer parte do famoso índice Dow Jones. Mas estou me desviando...
Toda essa história de empresa antiga, inovadora e grandiosa tem uma pegadinha: o projeto original da equipe do Thomas Edison usava a chamada "corrente direta". Apesar de funcionar, a corrente direta oferecia grandes limitações ao uso. Sem entrar em detalhes técnicos, a energia tinha que ser gerada perto do local onde era consumida, e ela não permitia a flexibilidade de voltagens que temos hoje. Isso encarecia muito o sistema e não permitiria que a energia fosse carregada de um lado a outro, usada para uma diversidade de fins, como é feito hoje.
A energia que usamos hoje, que abastece os eletrodomésticos da própria GE, é baseada na chamada "corrente alternada". Essa tecnologia foi criada pelo croata Nikola Tesla e se mostrou mais barata, flexível e fácil de transportar. Muitos lembram do nome "Tesla" das aulas de física da escola, mas a história do ponto de vista dos negócios é relativamente desconhecida.
| Foto do laboratório de Tesla em Colorado Springs, em 1900 (Imagem: domínio público/Wikimedia) |
Nikolas Tesla chegou a trabalhar no laboratório de Thomas Edison. Na verdade, grande parte das invenções que são atribuídas a Edison eram realizadas por um esforço de "força bruta" de seu laboratório, que chegou a dezenas de pessoas. Edison é famoso por dizer coisas como "Gênio é um por cento de inspiração, noventa e nove por cento de transpiração". A história oficial só esquece de vez em quando que a transpiração não era só dele. Segundo o que se sabe hoje, Edison era um chefe terrível, do tipo que fazia promessas e tirava o mérito de seus subordinados sem pensar duas vezes.
Tesla acusou Edison, entre outras coisas, de lhe dar um calote significativo por seu trabalho e acabou deixando o laboratório. Mais tarde, quando a discussão do uso de corrente alternada contra corrente direta começou a ferver, a empresa de Edison chegou a encenar a execução de animais usando a corrente alternada, para mostrar como a ideia concorrente era perigosa.
Na prática, a ideia de Tesla foi vitoriosa por suas vantagens, sua tecnologia e ideias são usadas até hoje. Do ponto de vista financeiro, no entanto, a história muda. Tesla morreu sozinho, endividado e morando de favor em um quarto de hotel. Thomas Edison fundou a GE e é tido como muitos como um grande exemplo de empreendedor e inventor.
Eu não estou contando essa história para desacreditar um nome respeitável como Thomas Edison, ou chorar as dores de um pobre cientista. A história, no entanto, é útil para entendermos um ponto central na questão que o Alisson levantou.
Repita em voz alta agora, caro leitor: "Empreender não é o mesmo que inovar." Empreender é a arte e ciência de levantar, organizar e administrar recursos. O objetivo do empreendedor é ter lucro. Isso pode envolver uma inovação, ou não. A inovação, por outro lado, pode ou não dar lucro ao seu inventor. Daria para escrever mais um livro inteiro sobre o assunto, mas o fato é que a história está repleta de casos em que a primeira pessoa a ter uma ideia e colocá-la em prática não é quem lucra com ela. Muitas vezes não é nem quem leva a fama por ela.
O que as pesquisas mostram sobre inventores é que essas pessoas geralmente são motivadas pela própria inovação. O prazer está na descoberta, em criar algo novo. Pessoas, e até equipes inovadoras, nem sempre estão preparadas para tirar proveito de seus produtos. É muito comum que seus avanços sirvam de base para outras empresas criarem valor e montarem um negócio. Inventar algo e ganhar dinheiro com esse algo são coisas que exigem habilidades e recursos bem diferentes. De vez em quando encontramos esses elementos em uma só pessoa ou empresa. Em outras vezes, não.
Finalmente, caro Alisson, sugiro que você separe suas iniciativas e vontades, e quem sabe até escolha aquela que te faz mais feliz. Se optar por ser empreendedor, pense em um negócio que gere lucro, empregue pessoas e te transforme em um empresário. Se quer optar pela carreira de '"inventor", saiba que, eventualmente, se sua ideia ou produto forem realmente bons, o melhor caminho pode ser vendê-la ou licenciar a uma empresa que tenha organização, habilidades e recursos para colocá-la no mercado. Existem inventores empreendedores, mas esses são casos muito mais raros do que as histórias e biografias nos contam. Você pode tentar fazer tudo sozinho. Mas no mundo real não há nenhum problema em optar por um caminho.
Fabio Zugman
www.administradores.com.br
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