Rio de Janeiro - O que acontece quando se coloca sob um mesmo teto
executivos de corporações globais, como Microsoft, Google, Volkswagen,
Coca-Cola e Unilever - entre centenas de outros representantes de
empresas de peso de todo o mundo - para discutir Sustentabilidade?
Acrescente à fórmula, entidades não-governamentais de renome como WWF e
Oxfam, mais algumas dezenas de dirigentes públicos e importantes
instituições, como a Fundação Getúlio Vargas e a iniciativa CDP (Carbon
Disclousure Program), e ainda pesquisadores de universidades de
excelência a exemplo de Columbia e Cornell.
Essa era a cara
multifacetada do Fórum de Sustentabilidade Corporativa, um evento
paralelo à Rio+20 que terminou ontem na Barra da Tijuca, no Rio de
Janeiro. Organizado pelo Global Compact - uma iniciativa da ONU em
parceria com o setor privado para disseminar práticas de reponsabilidade
socioambiental dentro das empresas - o encontro de quatro dias traçou
algumas tendências que já norteiam as principais lideranças empresariais
globais e outras que precisam ser reforçadas. As empresas do Global
Compact também lançaram um documento com 200 iniciativas voluntárias
para reduzir ou neutralizar as emissões de gases causadores do efeito
estufa nos próximos anos.
Sustentabilidade na Cadeia de Fornecimento
O
flagrante de trabalho escravo num dos fornecedores da gigante do varejo
de moda Zara, em agosto do ano passado, colocou um refletor sobre a
necessidade das empresas desenvolverem mecanismos mais apurados para
checar e garantir a sustentabilidade em sua cadeia de fornecedores.
Hoje, gerenciar os impactos sociais, ambientais e econômicos desses
stakeholders é um componente chave para o desenvolvimento sustentável, e
um meio das empresas darem mais um passo - um senhor passo, deve-se
dizer - no caminho da produção verde.
Ao serem cultivadas em
escala em complexidade cada vez maiores, as cadeias de fornecimento
representam desafios para a gestão e também oportunidades significativas
para as empresas, principalmente no que diz respeito à promoção dos
direitos humanos, melhoria nas condições de trabalho, proteção ao meio
ambiente e aumento dos esforços anti-corrupção. Para ajudar as empesas a
mapear suas estratégias na área, o Global Compact, a BSR e a
consultoria britânica Maplecroft lançaram uma ferramenta que ajudará as
empresas a rapidamente verificar a estratégia de sustentabilidade da
cadeia de abastecimento, com um conjunto de orientações detalhadas, e
identificar pontos fortes e áreas que necessitam de melhoria.
Relatórios de Sustentabilidade
Publicar
relatórios de sustentabilidade é uma das formas mais eficazes e
transparentes de mostrar o quanto sua empresa está empenhada em mudar a
forma de fazer negócios e prestar contas com a sociedade e o mercado a
respeito de suas práticas socioambientais. Mas ainda é preciso maior
adesão. No Brasil, por exemplo, segundo uma nova pesquisa da
BM&FBOVESPA apresentada durante a Rio + 20, de um total de 448
empresas de capital aberto analisadas, só 21 % publicam relatórios de
sustentabilidade ou similares; 107 não publicam, mas explicaram por que
não o fazem (23,88%) e 245 não se manifestaram (54,69%).
Outra
tendência emergente nos negócios é a integração dos relatórios
empresariais, que junta as informações financeiras da companhia com
dados socioambientais e de governança corporativa. O formato chamado GRI
(Global Reporting Initiative) é capitaneado por um grupo com sede na
Europa, o Comitê Internacional para Relatórios Integrados, ou IIRC na
sigla em inglês. General Motors, Accenture, Santander e Natura são
algumas das empresas que seguem as diretrizes da GRI.
Valorizando o Capital Natural
A
preservação do capital natural virou regra nas empresas ecologicamente
responsáveis, que já começam a contabilizar o uso que fazem dos recursos
da natureza. Um reflexo de uma ideia que veio de vinte anos atrás,
surgida na ECO-92, que enfocou a importância do ambiente natural e as
prestações de serviços, o capital natural, para sustentar a existência
humana. O assunto ganhou corpo e angariou apoio forte no meio
empresarial nos últimos anos.
Prova disso foi o anúncio no Fórum
feito por CEOs de 37 bancos, fundos de investimentos e companhias de
seguro, de um compromisso para integrar considerações sobre capital
natural nos seus produtos e serviços. “Tomar o capital dentro do
resultado final é trazer a riqueza real do planeta do espectro invisível
para o visível, a fim de pender a balança da degradação em direção ao
gerenciamento de comunidades, empresas e países”, disse na ocasião do
lançamento do Natural Capital Declaration o diretor-executivo do
Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente, Achim Steiner.
Uso responsável de água
Cerca
de 800 milhões de pessoas no mundo sofrem com falta de acesso à água
potável, e 2,5 bilhões carecem de saneamento básico. Devido ao
crescimento populacional, a urbanização e as tendências de
industrialização e as mudanças climáticas, a ONU estima que dois terços
da humanidade viverão em regiões com carência de água em 2025. Diante de
um cenário como este, não dá para as empresas fecharem os olhos para
usos irresponsáveis deste precioso recurso em suas operações.
Um
grupo de 45 diretores executivos, representando uma gama diversificada
de empresas e regiões a nível mundial, anunciou duarnte o encontro do
Global Compact um importante compromisso corporativo para promover
práticas de gestão da água e pediu aos governos presentes à Rio +20 para
tornar a segurança de água prioridade global. Segundo os empresários, é
preciso avançar na definição de metas de eficiência no uso de água nas
operações de fábricas, trabalhar com os fornecedores para melhorar a
gestão desse recurso e agir em conjunto com governos, ONGs, investidores
e outras partes interessadas em projetos e soluções para ajudar a
combater a crise de água mundial.
Inovação verde
Conhecimento
e inovação serão os principais fatores da sustentabilidade social e
corporativa nos próximos anos. Tecnologias mais limpas e eficientes
podem ajudar a reduzir o impacto ambiental das empresas e ainda gerar
ganhos financeiros. Para se ter uma ideia, com seu plano de
sustentabilidade, a Unilever chega a economizar 10 milhões de dólares
todos os anos. E o planeta, claro, também se beneficia. A sua fórmula
para lavar roupas “com apenas um enxágue” economiza em média 30 litros
por lavagem e já é usada em 12,5 milhões de lares no mundo inteiro. Já a
a General Motors economizou mais de US$ 30 milhões em 6 anos com seu
programa de produtividade dos recursos, que também reduziu o volume de
resíduos em 40%.
Mas, enfatizam os executivos, a inovação
sustentável requer que a empresa nutria uma cultura inovadora de
inspiração para permitir que os empregados tenham liberdade de
desenvolver ideias e possam participar do processo da sustentabilidade.
Todos também concordam que as empresas que investem em inovação
sustentável para aumentar a eficiência, muitas vezes adiantando-se a
marcos regulatórios, acabam por obter vantagem competitiva para
conquistar novos mercados na próxima década.
Por Vanessa Barbosa
www.vocesa.abril.com.br.
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